“Ah, tira outra?”

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Acho que todo fotógrafo já deve ter se deparado com a expressão de susto de um cliente ao ver o preço de seu serviço. “Nossa, tudo isso? Hoje em dia nem precisa de fotógrafo, todo mundo tem um celular no bolso”, ou o clássico “mas você ganha tudo isso só pra apertar um botão?”.

Não, eles não apenas apertam um botão, eles estudaram, aprenderam conceitos e técnicas que nenhum iPhone consegue te ensinar.

Mas será que alguém ainda é capaz de lembrar que a fotografia nem sempre foi banalizada como agora?

A tecnologia evoluiu tanto nos últimos anos que parece que foi em outra vida que tirávamos uma foto com amigos ou família sem pensar na quantidade de likes que elas iriam receber depois.

A fotografia, fora do âmbito profissional, sempre teve o intuito de registrar um momento, seja ele familiar, com amigos ou mesmo sozinho. Isso continua sendo assim, o problema é que esses momentos estão cada vez mais artificiais.

Tentando explicar melhor, vamos à seguinte situação: estamos em uma praia, alguém resolve tirar uma foto. Reunimos os amigos, alguém conta uma piada pra todos saírem sorrindo, o outro que estava longe volta click here correndo para aparecer na foto, alguém pula no meio da galera, derruba bebida, chuta a areia, enfim, uma bagunça. Por mais estranha que essa foto possa ter saído, ela registrou um momento verdadeiro. Antigamente a foto seria revelada, colocada num quadro e anos depois esse grupo de amigos teria histórias pra contar: a do cara que pulou no meio da galera e derramou bebida em todo mundo, a do cara que correu para sair nela, a piada – provavelmente sem graça – que foi contada, etc.

Mas e hoje? O que acontece depois de tirar essa foto? Todos se levantam e pedem “deixa eu ver?”, e sempre tem um pra dizer “Ah, tira outra? Não gostei”. Em seguida outra foto é tirada, todos saem lindos, sorrindo, com caras de feliz. Mas o sorriso é forçado, não foi por causa daquela piada que contaram antes da primeira foto, o momento é artificial, é montado. Não tem sentimento, não tem histórias. Tem likes.

Queremos um mundo com mais filmes de 12 poses, com fotografias mal reveladas, com o dedo na frente da lente. Pelo menos contávamos aos outros o que vivíamos e não vivíamos para contar aos outros.

Jaderson Cassiano – C&M Propaganda