Bom, rápido, barato e talvez eu queira.

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Seja um jardineiro para cuidar do jardim de casa ou uma agência de propaganda para criar campanhas da empresa que administra: é assim que a maior parte dos consumidores pensa quando procura por um serviço qualquer.

Sempre levei em consideração a regra do “bom, rápido e barato”. É uma regra simples de entender: se o resultado de um serviço que você contratou foi bom e rápido, dificilmente terá sido barato. Se foi rápido e barato, não deverá ter sido bom. E se foi bom e barato, provavelmente não foi rápido.

Mas, com o passar dos anos, a relação empresa-consumidor sofreu mudanças. A empresa, que antes tinha um produto ou oferecia um serviço que era vendido com facilidade, agora se viu em um oceano vermelho, sendo obrigada a procurar as mais diferentes formas para se destacar, criar novas estratégias e investir mais para se sobressair. Do outro lado, o consumidor, que antes tinha de sair de casa para procurar algo que precisava, agora recebe diariamente milhares de malas diretas, folhetos, flyers, anúncios digitais, visuais, audiovisuais e até sensoriais. Ele percebeu que estava sendo “disputado” e passou a criar critérios para decidir entre a, b ou c. Criava-se então o consumidor exigente, que sabia o que queria e exigia um produto ou serviço de qualidade.

A princípio, o cenário descrito acima era o que esperávamos de um sistema capitalista. A demanda existia e a oferta deveria ser feita cada vez mais de formas diferentes, inovadoras. Tudo isso contribuiria para o crescimento da sociedade.

Essa era a teoria. Na prática encontramos consumidores que querem produtos ou serviços mas sabem pouco ou nada sobre eles, passando a exigir tanto que acabam prejudicando o mercado.

Por exemplo: uma dona de casa precisa de reparos em seu jardim. Ela liga para dois jardineiros, um oferece seus serviços por 100 reais e não apresenta nada de novo, o outro cobra 200 e diz estar no mercado há mais de 10 anos, que possui uma técnica diferente para cortar a grama e garante a qualidade do serviço. Ela opta pelo de 100 reais, afinal está click here economizando 100 reais.

Após isso se repetir várias vezes, aquele que cobrava 200, não consegue mais vender seu serviço por este valor, então passa a vender por 100. Ele agora precisa vender duas vezes o seu serviço para ganhar o que antes ganhava vendendo apenas uma. Em outras palavras, para que ele não tenha prejuízos, ele precisa agora fazer duas vezes seu trabalho no tempo em que antes fazia um. O resultado? Um serviço mais barato, e malfeito.

Só que aí a dona de casa se irrita, pois o serviço foi malfeito: tanto o do que cobrou 100 reais antes, que tem um serviço de baixa qualidade, como o do que antes cobrava 200, mas que agora cobra 100, porém não tem o tempo necessário para realizar o serviço da maneira correta. Ela passa, então, a ligar para outros jardineiros e encontra um iniciante, que tem qualidade mas que cobra apenas 75 reais, pois está começando e trabalha sozinho. Entenda que, a partir daí, o serviço “bom, rápido e barato” passa a ter o preço estabelecido em 75 reais, menos da metade do que era antes.

Sobre essa situação vemos um ciclo em que ninguém sai ganhando: o jardineiro mais experiente e que tem qualidade cobra metade do valor que deveria. O jardineiro que cobrava mais barato, e com menos qualidade, agora tem de vender seu serviço a um valor menor que os 75 reais, já que este agora é o preço para um bom serviço. E o jardineiro iniciante, que um dia irá crescer, ter novas contas para pagar, irá se ver em um mercado descontrolado, criado por ele mesmo.

 

Entenda: o consumo deve ser incentivado e a competição entre concorrentes é sempre saudável. Mas ver e entender como o mercado funciona antes de oferecer ou comprar um serviço é essencial para que todos saiam ganhando.

Agora a parte curiosa: percebam que, quanto mais falamos sobre a variável “barato”, temos a impressão de que transformamos a variável “bom” em algo supérfluo. E é aí que mora o perigo. E é isso que tem de mudar, e de preferência “rápido”.

 

Jaderson Cassiano – C&M Propaganda